Tipos, Características e Propriedades dos Arcos de Violino, Violas e Cello

Violinos, Violas e Cellos são Instrumentos da Família de Cordas Friccionadas. No livro “Sobre os Instrumentos Sinfônicos e em torno deles”, de José Alexandre dos Santos Ribeiro (Editora Record, ISBN 85-01-07231-1), eles são categorizados como “Cordófonos friccionados”, que são Instrumentos cujas Cordas são tangidas por um Arco.

Sim, não existe Violino, Viola ou Cello cuja principal função não se valha de um Arco, que é a execução sonora desses Instrumentos, tal como o conhecemos. Logo, embora desprendidos fisicamente, essa dupla não pode estar desunida para sua utilidade fim. Não haverá um bom arco para um mau Violino, nem um excelente Cello para um Arco deficitário. Mas, o que tem essa vareta com cabelo de tão especial?! Vamos descobrir!

Antes é importante ser dito, tal como falamos no caso da Indústria de Instrumentos: Não existe nenhum padrão rígido que determine normas ou critérios absolutos para Arcos, de qualquer instrumento. Os padrões e modelos seguem boa parte da proposta de Tourte (https://en.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ois_Tourte), com adaptações e melhorias propostas por cada Archetier, segundo sua escola e métodos, assim como, de acordo com o Mestre Arqueteiro Daniel Lombardi (https://www.lombardiarcos.arq.br/), "de acordo com a necessidade dos músicos"!

Todo Arco é constituído das seguintes partes:



Vareta (Stick): O corpo do Arco, ou vareta, é toda extensão em Madeira ou algum material sintético que constitui seu Corpo.

Crina (Bow Hair): Como na antiguidade, somente esse tipo de material era usada, acabou ficando conhecida por esse termo. Mas, atualmente, outros materiais são usados, como Nylon ou alguma variação do Nylon, as chamadas Crinas Sintéticas. A Crina fica presa ao Arco por duas extremidades, denominados Talão e Ponta.

Talão (Nut): O Talão é peça do arco que é utilizada para movimentar a Tensão da Crina. A Crina é presa na parte inferior do arco pelo Talão, que ajustado pelo Parafuso ou Rosca (screw), ajustará a Tensão da Crina. É também utilizado como ponto de apoio para a empunhadura do Arco, sendo reservado o espaço do corpo do Talão para os dedos Médio e Anelar, com um vão na parte superior do talão para acomodar o Polegar (popularmente “Dedão”). 

O Talão é instalado dentro de uma canaleta do arco por onde é movimentado quando é apertado ou solto o Parafuso. Esse Parafuso é rodado dentro de um outro pequeno parafuso que fica fixado diretamente no Talão, que constitui então o Sistema de Parafusos.

No talão ainda se encontram o Anel, utilizado para dar acabamento na fixação da Crina, e como parte da Assinatura estética do Arco, uma marca que varia de Artesão para Artesão, que pode se utilizar do Olho Parisiense (geralmente feito de madre-pérola) ou Flor de Liz, entre outros desenhos mais característicos do próprio Archetier. Existe também a variação de “Talão Cego”, onde nenhuma decoração é utilizada.


Enrolamento: Serve de apoio para o Dedo Indicador, que fará a Pronação do Arco (pronação: empurrar o arco “para baixo”). Essa cobertura protegerá a Vareta de oxidação. Esse enrolamento pode ser feito de Metal (Fios de Prata ou Fios de Ouro), Sintético (como Nylon), ou eventualmente ser feito todo de Couro.

Couro: O Couro serve como base de fixação para o Enrolamento. Tanto o Couro quanto o Enrolamento são partes que caracterizam a “Assinatura” do Archetier que produziu o Arco. A assinatura do Archetier ficará entre o Couro e o Parafuso. É sempre importante saber a procedência do Arco, a medida que o músico busca por Arcos de melhor qualidade.

Ponta (Tip): A Ponta é a região superior do Arco, onde estará presa fixamente a Crina, sem movimentação de tensão. A Ponta é a região mais Fina e mais Leve do Arco. Pode ser feita de osso, marfim ou metal, e também terá bastante relação com a Assinatura do Archetier.


Taquinhos: Tanto o Talão quanto a Ponta tem os Taquinhos, que são pequenos pedaços de madeira utilizados para fazer a fixação da Crina, no Talão e na Ponta.

Em geral, essas são as partes do Arco, mas apenas para efeito de ilustração, segue uma imagem com todas as partes do arco, que somam, impressionantes, 21 partes.


1) ponteira, 2) ponta, 3) vareta, 4) crina, 5) taquinho da ponta, 6) talão, 7) botão, 8) encaixe da crina ou mortasa, 9) guarnição ou fasciatura, 10) parafuso do botão, 11) parafusinho do talão, 12) taquinho do talão, 13) chapa traseira do talão, 14) anel, 15) chapa da base do talão, 16) prego de fixação da chapa da base do talão, 17) encaixe do parafusinho do talão, 18) anel do olho, 19) olho, 20) mortasa do talão e 21) lingueta de madrepérola.

Atualmente, o Tipo de Arco que é utilizado é o Tipo Tourte  (François Xavier Tourte, 1747-1835), que juntamente com Viotti (Giovanni Battista Viotti, 1755-1824) desenvolveram o modelo de Arco que se utiliza até hoje.

Extensão do Arco

Os arcos têm medidas e características específicas para cada Instrumento. No caso de Violinos, o talão apresenta a extremidade inferior direita com ângulo de 90 graus, e sua extensão varia entre 74 e 75 cm. Para Violas, os Arcos são ligeiramente menores, entre 72 e 73 cm, com a extremidade inferior direita do talão levemente abaulada. Arcos de Cello são ainda menores, variando entre 70 e 71cm, com maior abaulamento da extremidade inferior direita do talão.

Violino, Viola e Cello.

O Arco do Cello é menor por causa da Curvatura que é utilizada para sua execução, principalmente nas Cordas de extremidade, como Corda Lá e Corda Dó. A Viola apresenta um Arco um pouco menos extenso, para aumentar o potencial de Pressão do Arco, principalmente na Ponta, considerando que as Cordas da Viola são mais grossas que as Cordas do Violino, exigindo assim mais pressão na execução do Arco. Por fim, o Arco do Violino, é mais extenso, seja pelas características acústicas do Violino, seja pelo fato da espessura ser mais fina, exigindo mais extensão.

Peso do Arco

O Peso médio (e ideal) do Arco de Violino é de 60 gramas (variando entre 59 e 62). O Peso médio (e ideal) do Arco de Viola é de 70 gramas (variando entre 69 e 72). O Peso Médio (e ideal) do Arco de Cello é 80 gramas (variando entre 79 e 82).

Um Arco mais leve (até o limite demonstrado acima) proporciona maior controle na execução dos golpes de Arco. Porém, dependendo da peça, caso exija maior sonoridade e golpes menos rápidos, poder ser mais interessante um arco um pouco mais pesado (até o limite demonstrado acima).

Ponto de Equilíbrio

O Ponto de Equilíbrio ou Centro de Gravidade é um aspecto relevante, e deve ser observado pelos Músicos, em relação ao seu arco. Essa medida é influenciada pelos materiais utilizados na Ponta (Ponteira) e Talão (guarnição, enrolamento, chapas do talão, etc). No caso do Arco de Violino, o Ponto de Equilíbro é a 20 centímetros do Parafuso; Arco de Viola, 19 centímetros do Parafuso; Arco de Cello, 17,5 centímetros do Parafuso.

Essa medida representará qual a facilidade que o músico terá para conseguir uma boa estabilidade do arco nas saídas de arcada no talão, principalmente. Você pode determinar o ponto de equilíbrio medindo com uma fita métrica, e depois, mantendo o arco equilibrado utilizando o dedo indicador de sua mão, mantendo o arco livre no dedo, que não poderá cair.

Formato da Vareta

Em geral, existem 2 formatos básicos para a Vareta: Redonda e Octogonal. Muita discussão surge em torno desses desenhos, e iremos abordar as especificidades desses arcos em outros Posts.

Estudos realizados com Profissionais, em ambientes controlados, determinaram que o arco octogonal teve melhor performance, com as seguintes características: Arco de Ipê Avermelhado, pesando 59,4 gramas, com 72,7 centímetros de extensão e ponto de equilíbrio em 19,7 centímetros a partir do parafuso. Esse estudo pode ser visto aqui http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172018000400403#t2.

Tipos de Arco

Atualmente, existem 3 tipos de Arco: Madeira, Fibra de Carbono e Fibra de Vidro. No caso dos Arcos de Madeira, os mais indicados são o Ipê (Amarelo ou Roxa), Pau-Brasil, Maçaranduba, Muiracatiara, Cumaru ou Pau-ferro. Outras madeiras não são tão adequadas para a confecção de Arcos, como Angelim, Angelim-pedra,  Mirinduva entre outras, seja pela dureza da Madeira, seja pela baixa fibrosidade da madeira.

Os Arcos de Fibra de Carbono têm tido boa aceitação entre os músicos na atualidade, tanto pela durabilidade, quanto por apresentar um bom equilíbrio entre peso e ponto de equilíbrio. É um material extremamente estável, que não sofre nenhuma alteração com base nas condições climáticas, e cuja flexibilidade e resposta a tensão, em alguns casos, é melhor que a Madeira.

Os Arcos de Fibra de Vidro são geralmente indicados para Estudantes, visto que sua resposta a alguns golpes de arco mais fortes ou que exijam mais tensão não geram boa resposta acústica. Isso se deve ao fato das fibras desse tipo de Arco não serem tão rígidas quanto a Carbono ou Madeira, e cederem com muita facilidade.

Temos outro post tratando especificamente da Crina, e faremos posts específicos para tratar com maior riqueza de detalhes as características específicas dos Arcos sintéticos e de madeira, que são objeto de muita discussão. Nesse post, nossa missão era mostrar,

Acompanhe o Blog. Em breve, trataremos sobre Cavaletes, bem como detalharemos alguns pontos tratados nesse Post! Não perca!!

Referências:

Arqueteiro Daniel Lombardi: https://www.youtube.com/watch?v=VKrrXwwyQVM


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