Muitos mistérios envolvem a antiga arte de Envernizar um Violino, Viola e Cello. Durante muitos anos se creu (e alguns ainda creem) que boa parte do maravilhoso som produzido por um Stradivarius ou um Guarneri tem relação bastante direta com seu verniz. Mas, o que o verniz tem a ver com a produção de som de um Instrumento?! Muito, e vamos falar sobre isso.
O Verniz é para
nossos Instrumentos o que nossa Pele é para nosso corpo. O verniz é responsável
direto pelo controle de umidade e calor dos instrumentos, seja para maior ou
menor, de cada um desses dois fatores climáticos.
Assim como nossa
pele nos distingue de nossos semelhantes, pelas características ÚNICAS de cada
pele, o verniz de um instrumento também é único, principalmente quando o
Instrumento é acabado artesanalmente.
Quando aplicado
artesanalmente, cada verniz é resultado de um preparo específico. Mesmo que
seja uma receita (todo Luthier pode preparar a sua própria), um pouco mais ou
menos de um determinado ingrediente pode afetar sensivelmente a coloração,
brilho, solidez ou qualquer outra propriedade do verniz, atribuindo ao
instrumento um acabamento final único, levando em consideração também o
processo de secagem e as propriedades individuais da madeira.
O verniz também
auxilia nas funções acústicas do Instrumento, fechando poros que causariam o
efeito de dissipação das ondas e aumento do ruído, "quebrando" a
linearidade das vibrações. No contexto visual, o Verniz proporciona o efeito de
Acabamento e Estética, dando ao Instrumento a ideia de concluído, sendo também
a Assinatura artística do Ateliê ou Indústria que fabricou o Instrumento.
Vamos começar
compreendendo então, quais os tipos de verniz existem. Essencialmente, existem
3, que são:
Sintético: O verniz sintético é
produzido a base de Poliuretano (que tem como base o Poliéster), produzindo um
efeito “plástico” no seu acabamento. Instrumentos industrializados, que tem
acabamento em Câmaras de Verniz, em geral, utilizam esse tipo de Verniz. Sua
aplicação é bastante simples, podendo ser utilizado “Revólveres” (máquinas de
spray) para aplicação.
Espírito: O verniz de “Espírito” é aquele que se dilui em
Álcool ou Terebentina, e por causa da evaporação, ficou conhecido por “espírito”
na Lutheria. Esses vernizes são temperados com resinas na sua composição.
Resinas são extraídas de Árvores, Plantas ou Insetos. Breu, por exemplo, é uma
Resina extraída em geral de Árvores, ou Laca (conhecida como Goma Laca ou
Shellac), extraída de um inseto encontrado na Índia e Tailândia. O Âmbar é uma
resina também bastante utilizada e muito procurada pelos Luthiers. Esse verniz
é mais complexo na sua aplicação, pois como se utiliza de Solventes, as camadas
de demãos mais antigas podem sempre ser afetadas pelas demãos recentes, durante
o envernizamento. Isso acarreta bastante complexidade ao trabalho.
Óleo: O verniz a Óleo tem como base óleos especiais extraídos de Nozes,
Sementes de Linho, Tungue (uma espécie de árvore da China) ou Soja. Assim como
o verniz “Espírito”, é necessária a resina para temperar o verniz, afim de
atribuir ao Verniz as propriedades de elasticidade e solidez necessárias,
características não encontradas no Óleo. A aplicação do Óleo embora seja lenta,
pelo alto tempo de secagem, é mais simples que o verniz “Espírito”, com nenhuma
influência negativa das camadas mais recentes sobre as mais antigas. Além
disso, eventuais erros cometidos na primeira aplicação são mais facilmente
corrigidos do que no caso dos demais vernizes, pois sua adesão é mais lenta e
menos espessa que os demais.
Alguns luthiers
citam também um outro tipo de Verniz, o Misto.
O Misto seria a junção do Verniz “Espírito” e do Verniz a Óleo, onde as
primeiras camadas são “Espírito”, com acabamento a Óleo. Contudo, esse Verniz
está mais para o resultado de aplicação do que para o Produto em si.
Todo verniz,
independente de qual dos três tipos acima, devem apresentar as seguintes
Propriedades, afim de ser um verniz adequado para o uso em Instrumentos. Eles
são:
Solidez: Solidez média, que não seja
líquido demais que impossibilite um bom controle na aplicação, nem tão sólido
que impossibilite uma aplicação constante e bem distribuída em todo o
instrumento.
Transparência: A madeira possui uma beleza própria e natural. Um verniz de alta
transparência deixa evidente as linhas e veios naturais da Madeira, aumentando
sua beleza estética.
Elasticidade: A elasticidade do verniz
permite que ele se expanda ou se retraia com o movimento natural da madeira em
resposta as variações climáticas. A madeira é sensível a temperatura e umidade
do ar. Se o verniz tiver a elasticidade muito baixa, poderá rachar ou
prejudicar a elasticidade natural da Madeira, prejudicando o som.
Brilho: O Brilho é uma escolha do
Autor. Existem instrumentos cuja característica de sua série ou modelo é ser
fosco, e isso caracterizará sua beleza. Outros, possuem um brilho mais
acentuado, dando-lhe mais vida e deixando seu visual mais "alegre".
Independente se mais ou menos Brilho, o equilíbrio estético deve acontecer,
para que o Instrumento tenha conformidade visual.
Cristalização: A cristalização é o estado final em que permanecera a massa do
verniz, (quando as moléculas do verniz já estão assentadas). A cristalização do
verniz também proporciona maior transparência, aumento das funções acústicas
devido à elevação da frequência da massa estabilização e alcançando a beleza
visual do instrumento.
Para facilitar
o entendimento (se possível) desse assunto tão complexo, apresentaremos a
tabela abaixo para comparação entre os 3 vernizes:
Base
|
Secagem
|
Efeito
|
Manutenção
|
|
Sintético
|
Poliuretano
|
Rápida (horas)
|
Resultado mais simples.
Diminui as vibrações da madeira.
|
Cera automotiva de baixo teor abrasivo;
|
Espírito
|
Resinas e Solvente (Álcool ou Terebintina)
|
Média (Dias)
|
Mais sensível a variações climáticas.
Mantém as vibrações da madeira.
|
Pano seco, de preferência flanela ainda não
lavada
|
Óleo
|
Resinas e Óleo
|
Longa (meses)
|
Resistente a variações climáticas
|
Pano seco, de preferência flanela ainda não
lavada
Pode ser aplicado para polimento leve algum Óleo,
como Amêndoa ou Nozes
|
Qual é o melhor
verniz?! Não, não existe resposta para essa pergunta de forma objetiva.
Instrumentos Estudantis e vários Intermediários, de custos mais baixos,
certamente utilizarão o Sintético, pela sua rápida capacidade de Secagem, e até
pela facilidade de aplicação. Instrumentos Avançados ou Profissionais,
certamente utilizarão Espírito ou Óleo. Se precisar fazer o instrumento em
menos tempo e podendo usar Goma laca, certamente Espírito. Se tempo não for um
problema, e uma determinada resina tenha que ser utilizada, como Âmbar por
exemplo, Óleo terá que ser a opção.
Existe muito a
saber a respeito do Verniz. Muita superstição envolve esse tema, tão complexo.
Se você ainda não assistiu ao filme “Violino Vermelho”, assista hoje! Acredite,
o filme é mais sobre o verniz do Instrumento do que sobre o Instrumento em si,
ou pelo menos, é sobre a relevância que o verniz tem sobre o Instrumento. O
verniz é quem torna o seu Instrumento único! Cuide, limpe, e não troque!
Nunca!! Cada marca, cada detalhe, é parte da história de seu instrumento.
Esperamos você no nosso próximo artigo, acompanhe-nos nas nossas mídias, compartilhem e comentem à vontade! Até o próximo Post!!
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