A Crina, seus tipos e suas características!!


De quantas partes e acessórios é feito um Violino, Viola e Cello?! Ainda falaremos disso, certamente, mas podemos com segurança, afirmar assim: Muitos! A cada post, sentimos que estamos abordando o ponto mais importante, aquilo que é mais relevante. Mas daí vem o próximo assunto, e descobrimos que ainda temos muito a conversar.

E aqui falaremos sobre um desses acessórios tão relevante quanto todos: a Crina! Sim, essa parte imprescindível do nosso instrumento, que sem a qual, possivelmente não faríamos Música! Parafraseando um importante estudioso de nome Norman Pickering, a quem citaremos nesse Post, “A mão esquerda pode produzir Notas, mas a mão direita produz Música! ”. Sem mais delongas, vamos ao que interessa!

A Crina do Arco é um acessório distribuído em, basicamente, dois tipos: Sintética e Natural. A Crina Sintética é baseada em um Polímero filamentoso (um tipo especial de resina vegetal e outros componentes químicos), e a Crina Natural

A cerda Sintética, ainda pouco aceita pelos Profissionais, começa a retomar alguma força na indústria, à medida que o mercado começa (muito lentamente) a demonstrar algum repúdio ao uso de matéria prima Animal, encurralada por diversos grupos ambientalistas. Recentemente, a França (a quem devemos muito pela atual forma de nossos Arcos) inaugurou o uso de um novo material Sintético para Arcos, o “Coruss”. Achei alguns reviews bem profundos na Internet, com músicos e archetiers que utilizaram, e a avaliação foi extremamente boa. Embora esteja em inglês, alguns Browsers traduzem o conteúdo, então segue o link: https://www.violinstringreview.com/spotlight-reviews/coruss-synthetic-bow-hair. O “Coruss” já ocupa algum destaque na Indústria Internacional, e começa a ser ofertado por diversas empresa, em clara contraposição a cerda Natural, como é o caso da empresa Incredibow (que brinca com o termo “Incrediable”, inacreditável, em tradução livre). O site da empresa é http://www.incredibow.com/about/, onde mais informações podem ser encontradas.

Em síntese, e depois faremos a tabela de comparação, a cerda Sintética apresenta algumas características bem interessantes, em contraposição as Cerdas Naturais. Como destaque, podemos apontar a Durabilidade (com 2 vezes mais tempo de vida do que a Cerda natural) e o Preço (a Industrialização do Produto permite ter mais escala, sendo mais barato). Mas vamos explorar as comparações mais à frente.

A cerda Natural, ainda mais aceita pelos Profissionais, possui questões que merecem atenção, e dedicaremos algum tempo aqui para resolver algumas dessas dúvidas. A cerda Natural é obtida de Cavalos, de raças específicas oriundas de regiões muito geladas, para que as Cerdas adquiram a consistência e estrutura adequada, provendo assim boa qualidade.

As regiões cujas Crinas oferecerão melhor qualidade são: Mongólia (universalmente mais aceita), Sibéria, Canadá e algumas regiões da China. Outros países também produzirão, e não podemos deixar de destacar até mesmo o Brasil, mas suas Crinas não oferecerão a mesma qualidade. Alguns arqueteiros sinalizam que, embora as Crinas Mongóis sejam as mais famosas, as Crinas Siberianas oferecem melhor qualidade sonora, pois tem melhor capacidade para assimilação do Breu, assim como mais resistência a umidade, melhorando a relação de tensão e equilíbrio da Crina durante a execução.

Outro aspecto importante, e objeto de constante dúvida, é sobre a Crina Branca ou Escura. Após muita pesquisa (mas muita pesquisa mesmo), conclui que a Crina Escura é mais adequada para Cellos e Contrabaixos, pois a Crina Escura (Marrom ou Preta) é mais grossa que a Crina Branca. A Crina branca varia entre 0.07 mm e 0.19mm de espessura (dependendo do período que a Crina é cortada e também da raça do animal), enquanto a Crina Escura varia entre 0.20mm e 0.28mm, podendo chegar, portanto, ao dobro da espessura da Crina Branca.

Nesse caso, a Crina Escura terá maior aderência, e será então mais adequada para Cordas mais grossas, como é o caso do Cello e Contrabaixo. No caso de Violino e Viola, aumentará a dificuldade para execução de dinâmicas como Piano ou Mezzo Piano, enquanto, claro, dará maior resposta para Fortes e Fortíssimos. Como na música muita coisa “Depende” (“depende” do repertório, “depende” da técnica, etc), não é correto afirmar que a Crina Escura NÃO SERVE para Violino ou Viola, mas certamente, é possível afirmar que não é a mais adequada, exigindo muito controle por parte do Músico para manter uma boa sonoridade.

É importante observar, contudo, que a Crina Branca, de cor sólida e constante, é um produto bastante valioso, cuja oferta dos bons produtos é relativamente escassa. Portanto, não é incomum encontrar Crinas descoloridas, ou seja, Crinas Escuras que sofreram uma descoloração para alcançar a tonalidade Branca. Mas é fácil detectar. A Crina Descolorida terá uma tonalidade mais “amarelada”, quase parecendo um material sintético, resultado do uso dos reagentes químicos utilizados para a descoloração. A Crina Branca natural apresenta um Branco sólido, bastante constante, com variação de cor praticamente imperceptível.

A substituição das Crinas é objeto também de muita discussão. Um artigo publicado pelo Dr Norman Pickering (https://en.wikipedia.org/wiki/Norman_C._Pickering) intitulado “Como o arco do violino produz som”, também em inglês (http://www.scavm.com/norman.htm), apresenta uma abordagem que impressiona. No texto, o Dr Norman afirma “que se bem cuidada, não é necessária a troca da Crina, a não ser que você já esteja realmente com poucas Cerdas presentes no Arco...” (em tradução adaptada, para melhor compreensão). Enquanto, abertamente, a vasta maioria dos músicos profissionais e arqueteiros defendem a troca de Crina em pelo menos 1 vez ao ano.

Segundo Norman, a Cerda da Crina não possui “dentes” (para facilitar o entendimento), e o movimento das Cordas é fruto do contato do Breu com a Corda, cujo calor produzido pelas arcadas, aquecem o Breu, “colando” o arco na Corda. Portanto, o uso do Arco não afetará a “forma” da Crina, como creem muitos profissionais. A Crina até possui “camadas” na sua composição, que como toda matéria orgânica, haverá desgaste dessas camadas com o tempo, e esse desgaste será potencializado com o uso. Mas segundo Norman, um desgaste absoluto não é atingido em um período curto como 1 ano.

Então trocar regularmente a Crina do Arco está errado? Não, e isso dependerá de fatores como: Perda de Crina, Crinas mal instaladas, Crinas mal preservadas ou mal limpas, uso de Breus de baixa qualidade ou inadequados para o tipo de Crina, entre outros fatores que podem provocar a troca, como alto índice de Sujeira ou mesmo a mera troca por Crinas de melhor qualidade. Mas encare a Troca de Crina como um Investimento, dentro de um plano menos regular do que comumente se propaga.

Por fim, não menos importante, vamos então comparar as Crinas, de uma forma bem simples e objetiva:

Tipo
Origem
Característica
Tempo de Vida
Manutenção
Sintética
- Poliamida em Filamentos, com derivados em “Nylon” ou “Coruss”
- Maior durabilidade;
- Pouco sensível a umidade (alta ou baixa);
- Necessidade de maior uso de Breu, pois é um material com núcleo mais rígido, com menos possibilidade de aderência do Breu;
- Maior elasticidade, podendo ser menos estável para execução de Piano, Mezzo Piano ou Legatto.
- Pode ser utilizada por Violinos, Violas, Cellos e Contrabaixos;
- Apresenta muitas variedades de espessura e até mesmo de cores, bastante versátil;
- Preços mais baixos;
- Extremamente durável, podendo chegar a mais de 20 anos sem praticamente nenhum prejuízo sonoro
- Limpeza básica com tecidos a base de algodão. Limpeza mais profunda com base em Álcool Desnaturado.
Natural – Branca
- Crina da Cauda do Cavalo, com as melhores provenientes da Mongolia, Siberia, China e Canadá.
- Menor durabilidade, apresenta mais quebras das cerdas;
- Maior adesão do Breu;
- Menos elasticidade, melhorando a execução de alguns golpes de arcou dinâmicas;
- Indicada para Violinos e Violas;
- Espessura e Tonalidade varia muito pouco, quando de boa qualidade;
- Preços mais elevados;
- Por ser natural, pode sofrer desgaste do tempo e do uso intenso, podendo exigir a troca de crina em períodos curtos, como 1 ano ou menos.
- Limpeza básica com tecidos a base de algodão.
- Limpeza mais profunda com produtos específicos.
Natural – Escura
- Crina da Cauda do Cavalo, com as melhores provenientes da Mongolia, Siberia, China e Canadá.
- Durabilidade mediana, apresenta poucas quebras das cerdas;
- Maior adesão do Breu;
- Menos elasticidade, melhorando a execução de alguns golpes de arcou dinâmicas;
- Indicada para Cellos e Contrabaixos;
- Espessura varia muito pouco, quando de boa qualidade;
- Tonalidade pode variar bastante, indo de Marrom com tons claros, Preto profundo e Preto acizentado;
- Preços bastante elevados;
- Por ser natural, pode sofrer desgaste do tempo e do uso intenso, podendo exigir a troca de crina em períodos curtos, como 1 ano ou menos.
- Limpeza básica com tecidos a base de algodão.
- Limpeza mais profunda com produtos específicos.

Cuide de sua Crina! Não limpava até hoje?! Passe a limpar, mas busque um Arqueteiro que o ensine a fazer de maneira adequada! Existem excelentes arqueteiros no Brasil, e nós também abordaremos em outro Post a limpeza das Crinas, não perca!

Acompanhe o Blog. Na sequência, trataremos sobre os Breus adequados para cada tipo de Crina e Corda, bem como abordaremos em breve os Tipos de Arco!

Esperamos você no nosso próximo artigo, acompanhe-nos nas nossas mídias, compartilhem e comentem à vontade! Até o próximo Post!!

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